Como se fossem bonecas

Já se sabe que as crianças podem se espelhar nos comportamentos de artistas ou em conteúdos que são veiculados na mídia. Em alguns casos, elas podem até ser estimuladas a assumir um comportamento não condizente com a pouca idade pelos próprios pais, que muitas vezes projetam sobre os pequenos algum tipo de desejo ou ideal próprio.

O fato é que estas escolhas claramente não partem da criança.

Quando a criança é convidada a assumir uma determinada fantasia, seja ela sugestionada pela família ou pela mídia, isso toca em sua necessidade de pertencimento. A criança adota comportamentos precoces buscando a aprovação. Ela tenta se adequar. Não quer dizer que, de fato, uma menina de 7 ou 8 anos goste de batom, salto alto, cabeleireiro. E mais: o fato da criança se apropriar desses objetos e rituais definitivamente não é um indicativo de que ela compreende os significados que esses itens carregam.

Em dezembro, a Revista Trip relatou a saga da pequena Natalia, uma menina que, aos sete anos, já foi bicampeã do Miss Universo e tem uma rotina que envolve salões de beleza e ensaios fotográficos – história que faz lembrar o filme “Pequena Miss Sunshine”. A matéria também revelou a mais recente ambição da mãe da pequena: transformar a filha em garota-propaganda de uma campanha de combate à pedofilia. A pergunta que eu não poderia deixar de fazer é: será que uma menina de sete anos que trabalha como uma adulta, usa maquiagem como uma adulta, faz o cabelo e frequenta o salão de beleza como muitas mulheres adultas, é o modelo ideal para estrelar uma campanha de combate à exploração infantil?

Pais, professores, educadores e a sociedade civil, como um todo, devem se atentar aos modelos que elegemos diariamente. Devemos, também, ser cuidadosos para não projetar nossos desejos e ambições em nossas crianças. Elas nem sempre estão preparadas para concretizá-los. Mas, na maioria das vezes, estão dispostas a tentar.