O canal de televisão “Discovery Kids”, cuja audiência é quase inteira infantil, realizou em maio de 2010 o concurso “O Discovery Kids procura Apresentadores”. Para participar da promoção, os pequenos deveriam assistir à programação da rede 6 horas por dia. Durante a tarde foram divulgadas palavras-chave que os concorrentes mirins deveriam anotar para acumular pontos.
Façamos um pequeno cálculo para se ter uma idéia de como o concurso da Discovery Kids estimulou as crianças a ficar horas em excesso em frente da televisão. Considerando que a gincana teve vigência entre os dias 3 e 30 de maio de 2010, foram 28 dias de promoção, o que significa 168 horas de programação ou 7 dias inteiros assistindo a televisão. Levando-se em conta que cada palavra-chave vale um ponto, ao fim do concurso uma criança que conseguisse capturar todas as divulgadas acumularia 84 pontos. As 100 crianças que conseguissem reunir a maior quantidade de pontos seriam as vencedoras, com direito a participar do processo seletivo de apresentadores da Discovery. Já para as empresas que anunciam para as crianças, o concurso foi um forte estímulo para fazer os pequenos assistirem à toda programação, incluindo as publicidades.
Um parênteses. Segundo dados do Ibope Media Workstation, as crianças brasileiras passaram, no ano de 2010, 05h04min assistindo a TV. O tempo excessivo que os pequenos passam na frente da tela estimula maus hábitos relacionados ao consumismo, sedentarismo e dificuldades de sociabilidade. Menos tempo para brincar, bater papo e ler. Mais tempo como receptores de mensagens audiovisuais que, não raro, estimulam o consumo exacerbado.
Diante de evetuais danos decorrentes da longa exposição dos pequenos às mensagens publicitárias por meio do concurso da Discovery, a equipe jurídica do Projeto Criança e Consumo resolveu agir. Em 12 de agosto de 2010, foi encaminhada notificação junto à empresa. Ante a ausência de resposta por parte da Discovery Latin América LLC, foi encaminhada representação ao Ministério Público Federal no dia 17 de fevereiro de 2011.
O caso segue sendo monitorado pela nossa equipe e pode ser acessado no site do Projeto.