Ontem, dia 7 de abril, foi realizado mais um evento promovido pelo Projeto Criança e Consumo, para estimular o debate sobre consumismo infantil e suas causas e consequências. Desta vez, a exibição do documentário “Criança, a Alma do Negócio” foi realizada no Cineclube Socioambiental Crisantempo, em São Paulo, seguida da discussão sobre o tema.
Estela Renner, diretora do filme, e Tamara Gonçalves, advogada do Projeto, eram as convidadas do debate. Estela, publicitária, contou um pouco sobre como foi fazer o documentário, que demorou um ano e meio para ser realizado, com mais de 100 horas de filmagem. “Amigos publicitários me ligaram, pois ficaram sensibilizados com o filme. Teve quem me disse que parou de fazer, por exemplo, comercial de sandálias para crianças”, contou.
O vídeo, que retrata o impacto da publicidade no público infantil, foi lançado em 2008. A diretora contou que a motivação para a produção veio do seu próprio filho que, aos três anos, pediu que ela abastecesse seu carro em uma rede de postos de gasolina específica.
Com a publicidade se comunicando diretamente com a criança, principalmente através da televisão – crianças brasileiras chegam a ficar mais de cinco horas diárias em frente à tela – não é difícil entender como os pequenos sabem os nomes dos produtos anunciados e têm preferências por marcas específicas. “No fim das contas, é a luta de uma máquina milionária contra um pai e uma mãe em casa. É uma briga desigual”, afirma Tamara. Além dos valores passados pelas mídias, o sedentarismo de passar horas em frente à TV piora o problema. 33% das crianças têm sobrepeso e 15% são obesas hoje no País.
A pergunta que ficou no ar na sala Crisantempo foi porque hoje não existe uma regulamentação mais forte para publicidade dirigida ao público infantil. Ela traz algum benefício para as crianças? “Crianças, legalmente, não têm poder de compra. Então por que direcionar propaganda para esse público?”, indagou a advogada. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor, que trazem artigos para defesa do público infantil à publicidade, completam 20 anos, mas pouco se discutiu sobre esse tipo de comunicação mercadológica.
Caso recente da R24 da Anvisa ressaltou a dificuldade de aplicação de políticas públicas nesse sentido no país. A resolução, que propôs que a publicidade alimentar de produtos não saudáveis viesse com um aviso, tal como acontece com os cigarros, está hoje suspensa para diversas produtoras de alimento, devido à liminar concedida a Abia. Sobre essa questão da publicidade de alimentos não saudáveis, Estela contou que seu próximo documentário vai abordar a questão da obesidade infantil. Contatos podem ser feitos pelo email obesidadedoc@gmail.com.
Assista abaixo um vídeo do encontro, feito pelo pessoal do Crisantempo: