Em fevereiro, a rede de supermercados Walmart lançou a linha de cosméticos GeoGirl, direcionada para crianças entre 8 e 12 anos. Blush, rímel, batom, cremes em geral. Enfim, “tudo o que uma criança de oito anos precisa para estar alinhada às tendências da indústria da beleza.”
O Walmart não está sozinho nessa empreitada para seduzir o público infantil…Nos últimos meses a discussão sobre erotização precoce tomou força depois de matérias publicadas em diferentes veículos comentavam sobre produtos de adultos lançados agora com foco em crianças. Ao mesmo tempo, o público infantil, especialmente as meninas, tem sido cada vez mais bombardeado com publicidades que incentivam o consumo de produtos adultos, como sutiãs com bojo. Esses apelos para o consumo agravam a questão da erotização precoce, já que as crianças até os 12 anos não entendem completamente o discurso publicitário.Tenho visto e escutado relatos sobre muitas crianças interessadas em temas e produtos adultos, justamente por conta da exposição a esse tipo de mensagem.
Quando penso de minha infância, não posso deixar de lembrar das invasões no quarto da minha mãe em busca de maquiagem para me lambuzar de batom nas bochechas, sombras coloridas pelo rosto. Depois eu vestia saias que arrastavam no chão e botas e saía desfilando pela casa em busca de elogios da família. Uma brincadeira como outra qualquer, de imitar a mãe, e que faz parte da cultura lúdica infantil e é muito importante para o exercício de comportamentos adultos.
Mas, hoje é diferente. A menina tem uma linha de maquiagem feita sob medida para ela e nem precisa mais invadir as coisas de sua mãe. As maquiagens assim como os sapatos de salto estão dentro do seu armário misturados com brinquedos.
A notícia da Walmart mostra uma situação ainda mais delicada: além da maquiagem, que, com certeza é dispensável na vida de uma criança quando não serve para brincar, o produto em questão ainda previne o antienvelhecimento. Pois é, o antienvelhecimento. O que soa estranho já que é feita para crianças. Aqui temos dois problemas, a erotização precoce e o adiantamento de fases da vida adulta, problemas seríssimos que passam batidos aos olhos de alguns adultos. Nos cabe a reflexão: Qual é o objetivo da empresa ao lançar a linha de cosméticos GeoGirl, direcionada para crianças de 8 a 12 anos? Vender, lucrar e conquistar um público mais jovem? Seria isso ético? São muitas perguntas diante de uma verdade, a de que hoje em dia o poder da indústria de beleza é sem dúvidas gigante, e o setor é um dos que mais cresce no mundo e que mais compra espaço publicitário. No Brasil, em dez anos, o faturamento do setor de beleza passou de R$ 4,9 bilhões para R$ 21,7 bilhões. Pasmem!
A questão da preocupação com o envelhecimento, que nunca devia passar pela cabeça de nenhuma criança, é colocada para ela precocemente, convidando-a a pular a fase mais importante da vida, que é a de ser criança, e a deixar de fazer coisa de criança; o que inclui se vestir como crianças, ter brinquedos, e não celulares, e se sujar com tinta ou terra, e não com produtos para adultos.