Em 2010, o Projeto Criança e Consumo denunciou ao Procon de São Paulo campanhas do McLanche Feliz, que associam venda de alimentos a brinquedos e acaba por incentivar a formação de hábitos de consumo e alimentares prejudiciais às crianças. A denúncia rendeu uma multa histórica de mais de R$ 3 milhões ao McDonald’s.
Embora a empresa ainda possa recorrer, o importante é que a decisão do Procon reconhece o impacto negativo desse tipo de marketing nas crianças. E mais: a notícia mobilizou tanto a imprensa nacional como a internacional e refletiu os anseios dos leitores com relação às publicidades de alimentos voltadas para crianças. Alguns exemplos da grande repercussão da multa são matérias publicadas em veículos como Estadão, Folha de S.Paulo, O Globo e dos estrangeiros L’Express e El Clarín.
A pesquisa que encomendamos ao Datafolha neste ano mostra que 79% dos pais acreditam que a publicidade de alimentos não-saudáveis influencia no hábito alimentar dos filhos. A preocupação não é por acaso, afinal os índices de obesidade infantil só crescem no Brasil – o problema já atinge 15% dos nossos pequenos.
Crianças estão em fase de desenvolvimento e de formação de valores, por isso não é ético bombardeá-las com publicidade. Elas são muito mais vulneráveis do que o público adulto aos apelos de consumo e são facilmente atraídas pela linguagem emocional utilizada nas publicidades. No caso do McDonald’s, essas campanhas são ainda mais sedutoras, pois estão sempre acompanhadas do personagem mais pop do universo infantil. Agora mesmo em dezembro, a rede de fast food está distribuindo as “surpresas” do filme “O Gato de Botas” com o seu tradicional McLanche Feliz.
Mesmo que possa mudar ou não se concretizar, essa multa do Procon ao McDonald’s sinaliza uma tendência mundial de não mais aceitar tamanho desrespeito aos nossos filhos em nome dos interesses de mercado. O McDonald’s está sentindo a pressão pública, mas não é a única empresa do setor de alimentos que anuncia e associa seus produtos a brindes. Habib’s, kinder Ovo, Bob’s e muitos outros também estão na lista das que produzem ações de marketing abusivas voltadas ao público menor de 12 anos.
Brindes sob risco
Vale lembrar dois casos recentes que discutem a distribuição de brinde com lanche, um no Brasil e outro nos EUA. Em julho desse ano, a Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou uma lei que proibia a venda de brindes com lanches. Seria a primeira cidade brasileira a proibir essa prática, mas a lei não entrou em vigor. Já na Califórnia, a cidade de São Francisco aprovou uma nova lei que proíbe a venda de refeições servidas em restaurantes e lanchonetes com brinquedos gratuitos, a menos que elas contenham menos de 600 calorias, incluam frutas e vegetais, e que tenham bebidas sem excesso de açúcar e gorduras.