Conversando com uma senhora sobre a questão do consumo desnecessário, entre outras coisas ela comentou sobre uma bolsa que ganhara pelo último Dia das Mães. Era uma senhora de origem muito simples e recordou com alguma dificuldade a marca da bolsa, possibilitando, porém, entender que se tratava de uma grife cujo modelo mais barato geralmente ultrapassa a dois salários mínimos. E entre outros comentários que fez, ela mencionou algo que provavelmente lhe fora mais desconfortável do que o gasto excessivo com o presente: “Meu filho viaja muito, então a secretária dele é quem compra essas coisas caras que eu nem tenho o costume de usar!”.
O que parecia estar incomodando aquela senhora não era essencialmente o preço do presente, mas o fato de o mais importante não ter vindo junto com ele: a presença, o abraço, as palavras e o afeto espontâneo do filho. Embora se mostrasse vaidosa de seus esforços para a formação do rapaz e do conseqüente sucesso profissional que ele vinha alcançando, o dinheiro que ele agora tinha de sobra, na verdade, o afastava dela.
“Faça sua mãe mais feliz com um calçado da marca X”, “Retribua todo o amor que recebeu com a bolsa Y”. Em função do forte e repetitivo apelo emocional das mensagens comerciais, muito antes de entender o significado das datas comemorativas, as crianças aprendem a demonstrar seu afeto pelas pessoas queridas comprando-lhe presentes. E aprendem também a medir a intensidade do afeto demonstrado pelo valor gasto na compra.
Dentre as brechas utilizadas pelo marketing para incrementar as vendas de produtos, as datas comemorativas são as preferidas. Porém, nada nos impede de exercermos também o nosso próprio papel enquanto filhos, maridos, esposas, namorados, avós e netos, determinando formas mais genuínas de homenagear as pessoas que amamos. Nada contra comprar presentes, contanto que os objetos não se destinem a substituir o nosso afeto.
O amor é um ótimo combustível para as ideias criativas e fonte de entusiasmo para fazermos alguém feliz. Portanto, melhor do que as mensagens comerciais prometem, os filhos, sim, têm o privilégio de dar às mães presentes verdadeiramente personalizados por conhecer-lhes mais a fundo o jeito de ser. Por exemplo, um cartão feito à mão, pode superar um objeto caro ao permitir à mãe imaginar o filho debruçado sobre ele, recortando, desenhando ou pensando em algo bonito para lhe escrever. Ajudá-la a colocar a mesa e almoçar juntos ou um simples “Eu te amo, mãe” pode lhe tocar muito mais o coração.
Como as crianças aprendem com os exemplos, fica mais fácil para os filhos acreditar no valor dos abraços, das palavras afetuosas, dos gestos amorosos e do que podem criar se perceberem que suas mães acreditam também, fazendo o mesmo em relação a eles e às demais pessoas queridas.
Uma das características das crianças é acreditarem no que ouvem e vêem. Então, antes que a publicidade se aproveite disso para convencê-las de que a felicidade está no comprar, vamos ajudá-las a crer no valor incomparável de seus sentimentos e de sua expressão própria. Os objetos passam e, na maioria das vezes, custam caro. O gesto espontâneo não cai de moda, emociona e não tem preço.