Onde as crianças dormem

Na semana passada recebi de duas ou três pessoas diferentes um ensaio fotográfico sobre os quartos de crianças de diferentes partes do mundo, feito pelo fotógrafo James Mollison. As fotos são impressionantes, embora um pouco distantes da realidade – como bem me alertou alguém.

O ensaio em si não é novo, foi publicado no site do jornal britânico The Daily Telegraph em outubro. Mas só apareceu no meu Facebook e Twitter nos últimos dias, junto com um comentário que me chamou a atenção: alguém dizendo que não sabia se ficava mais chocado com a pobreza extrema de algumas crianças ou com o excesso de coisas de outras.

De fato, nosso primeiro impulso é sempre olhar para o menos, para a carência, para a falta. Mas embora seja menos óbvio, o excesso também choca: brinquedos, roupas, maquiagem, coroas, faixas de miss, apetrechos de caça… Tudo aos montes, passando uma impressão de sufocamento e de que tudo ali é artificial.

Se a falta e a pobreza chocam porque escancaram a situação precária em que vivem milhões de crianças, o excesso choca porque é opção. Ninguém escolhe dormir num lixão, fazendo de pneus velhos uma cama improvisada; é uma circunstância imposta, que não foi escolhida nem pela criança e nem pelos pais. O excesso, por sua vez, é resultado de uma escolha. É uma decisão que os pais tomam a cada novo pedido da criança; ou, o que é ainda mais alarmante, uma decisão que os pais tomam sem que a criança tenha sequer desejado aquela porção de coisas.

Cesar Ibrahim, Mestre em Psicologia pela PUC-RJ, dá pistas do que está por trás dessa escolha dos pais: “É a tentativa de injetar uma espécie de anestésico existencial, uma blindagem emocional comprometida com o prazer o tempo inteiro”. Segundo ele, é como se os pais quisessem promover a felicidade dos filhos a todo custo, mas não sabem o que fazer e nem como.

“Vivemos em uma sociedade que é uma fábrica de desejos. A criança está o tempo todo desejando coisas, e os pais ficam o tempo todo correndo atrás para ver se conseguem preencher um buraco que não se preenche nunca, porque, na realidade, não se trata disso. O que a criança quer é atenção”, diz Lena Bartman, pedagoga e diretora pedagógica do Espaço Alana.

Vale ler a íntegra da entrevista de Cesar Ibrahim, Lena Bartman e outros especialistas na publicação especial do Projeto Criança e Consumo sobre Estresse Familiar.