Todo ano quando chega essa época é a mesma coisa… Tenho que fazer um malabarismo danado pra conseguir ir ao supermercado sem me estressar. Tenho um filho pequeno e por mais que a gente faça os combinados antes de sair de casa, é praticamente impossível cruzar o túnel de ovos de Páscoa sem pedidos, amolação e choradeira. O curioso é que ele não é fã de chocolate. Numa festa de criança, se você oferecer brigadeiro, ele vai recusar. Mas então, o que acontece?
No último fim de semana, resolvi tomar nota do que eu encontrei no tal túnel. Quatro fabricantes de chocolate – Lacta, Garoto, Nestlé e Arcor –, uma infinidade de personagens conhecidos das crianças, diversas opções de brindes… E a terrível sensação de que o chocolate em si era o que menos importava.
Sem brincadeira, contei quase 30 personagens diferentes! Tinha para todos os gostos e idades: Shrek, Max Steel, Garotas Superpoderosas, Spiderman, Barbie, Moranguinho, Hot Wheels, Polly, Iron Man, Ben10, Transformers, Pucca, Hello Kit… Tinha ovo de time de futebol, ovo da revista Capricho, ovo do HopiHari. Tinha até ovo do filme Rio, que acabou de estrear nos cinemas.
Ovo sem personagem e sem brinquedo? Até tem… Mas quem é que consegue convencer uma criança a escolher um desses? E o que é ainda pior: quem é que consegue convencer a criança de que um único ovo de Páscoa basta? Não é meio óbvio que ela vai querer vários, já que são tantos tipos diferentes?
A associação entre alimentos, personagens e brinquedos não é exclusividade da Páscoa. O Criança e Consumo já fez algumas representações sobre o assunto no passado: McLanche Feliz, Sucrilhos com Shrek, Cheetos com Hello Kit…
Mas nessa época do ano a coisa fica feia, porque o assédio acontece todo ao mesmo tempo e em torno de um único tipo de produto. Os ovos de Páscoa, aliás, também já foram motivo de representações do Criança e Consumo ao Ministério Público. E se engana quem pensa que esses brindes saem de graça… Uma pesquisa feita pelo IDEC na Páscoa do ano passado apontou que 100g de um ovo de chocolate com brinde chegava a custar até 102% a mais que a mesma quantidade de um sem brinde da mesma marca ou conter até 37,5% a menos de chocolate.
No entanto, até agora nada foi feito auxiliar os pais na dura tarefa de limitar a quantidade de chocolate e ensinar que comida nada tem a ver com brinquedo. Entra ano e sai ano, e as empresas continuam livres pra abusar dos ícones infantis para vender seus produtos para nossas crianças. E a nós, pais, resta continuar com o malabarismo pra atravessar o túnel de ovos…