No dia 10 de abril teve destaque a notícia de que o Chile está permitindo a impressão de publicidades no material escolar de suas escolas privadas. Propagandas de diferentes produtos ganham as páginas dos livros didáticos, promovendo inclusive atividades como analisar as vantagens de uma bebida ou cantar músicas sobre os benefícios do celular Claro.
Embora a educação para o consumo seja essencial para criar adultos críticos a esse conteúdo, isso não é o que acontece na ação promovida no Chile. Ao invés de utilizar publicidades fictícias, o material divulga produtos reais a um público com menos de 12 anos, que não têm consciência crítica para se defender do apelo mercadológico e que não entende a função final da propaganda. A matéria do Estadão ainda ressalta que “ao contrário do que ocorre nos canais de televisão, os estudantes não podem virar a página ou mudar de canal para fugir das peças quando estão em sala de aula”.
Por mais surpreendente que seja a ação chilena, este não é o primeiro caso de publicidade invadindo escolas. Em 2008, o Criança e Consumo encaminhou uma notificação a um colégio de São Paulo e à empresa Johnson & Johnson, por uma ação do produto Clean&Clear realizada na porta da escola, com interpretação de uma modelo e distribuição de amostras grátis. Palestras de nutrição da Sustagem, gincana com Gatorade e Coca-Cola e teatro da OFF Kids são mais algumas das práticas que vêm acontecendo nas escolas, sempre com distribuição de amostras do produto. No Espirito Santo, por exemplo, uma escola chegou a pedir em uma prova que as crianças desenhassem o produto da L’acqua di Fiori que queriam presentear para a mãe – coincidentemente, as vésperas do Dia das Mães.
As iniciativas mostram a invasão dos interesses mercadológicos no espaço educacional, onde a criança está aberta para aprender e assimilar o que é ensinado. Quando o anúncio de produtos invade a escola, é como se o próprio ambiente escolar estivesse ensinando que aqueles produtos devem ser consumidos. Quando até a educação fica em segundo lugar frente aos interesses comerciais de grandes empresas, é o momento de paramos para pensar que tipo de sociedade estamos criando e que valores estão sendo transmitidos às crianças.
*A foto é do jornal El Mostrador.