Blogagem coletiva: Sexismo nas ações de marketing dirigidas ao público infantil

Ao longo dos quase seis anos de atuação do Projeto Criança e Consumo, temos nos deparados com questões sérias que se refletem no fenômeno do encurtamento da infância e que causam problemas graves. Nas denúncias que fazemos contra campanhas de publicidades voltadas para o público menor de 12 anos, assistimos a um verdadeiro desmonte de conquistas essenciais para a vida humana, entre elas a garantia de que as crianças tenham direito a uma infância livre e saudável.

Cercadas por diversos tipos de mídia – da televisão ao videogame, do computador ao smartphone –, hoje as crianças estão cada vez mais expostas aos apelos para o consumo. Além de incentivar um valor materialista, esses apelos não raras vezes exaltam o que há de pior na sociedade de consumo, passando pela visão sexista de mundo.

Foram muitos os episódios em que campanhas publicitárias voltadas para o público infantil reproduziam e até incentivam comportamentos que não condizem com a busca por uma sociedade mais justa e igualitária.

Os meninos são frequentemente representados como valentes, heroicos e fortes. Essa é a imagem do sucesso masculino e que nos é passado desde a infância. Um caso emblemático dessa questão na publicidade foi a campanha do brinquedo Roma Tático Móvel, que imitava o “Caveirão do Bope” e causou polêmica na imprensa carioca em 2010 ao mostrar crianças brincando como se estivessem em uma ação policial.

Já as meninas, nas peças publicitárias, quase sempre estão preocupadas com a aparência ou em viver num mundo cor-de-rosa (literalmente!). Quando não são verdadeiras bonecas, que não se sujam nem desarrumam o penteado, são mostradas como pequenas mulheres, a exemplo de um outdoor da marca Lilica Ripilica, que mostrava uma garota pequena fazendo com os dizeres “use e se lambuze”. O caso resultou numa multa para a fabricante e num Termo de Ajustamento de Conduta, em que a marca se comprometia em não mais veicular publicidade com esse tipo de imagem.

São apenas exemplos do quanto estamos mercantilizando a infância e reproduzindo comportamentos e valores que deveriam ter ficado no passado. Mas que continuam mais presentes do que nunca.

Para saber mais sobre esse assunto, vale assistir ao documentário “Criança, a alma do negócio” e rever a entrevista de uma de nossas coordenadoras para o programa da jornalista Salette Lemos na CNT, que discutiu os problemas do encurtamento da infância e da erotização precoce.