Em artigo publicado na Folha de S. Paulo no dia 23 de janeiro, o presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Joaquim Melo, escancara a clara associação entre o incentivo ao consumo em excesso de bebidas alcoólicas e o Carnaval e critica a liberação do Estado para o patrocínio de festas por todo o país por cervejarias – que, obviamente, têm como principal objetivo incentivar o consumo de álcool.
Para o médico, ações assim contrariam “o que se espera do poder público em seu compromisso de zelar pelo bem-estar e pela saúde dos brasileiros”, especialmente crianças e jovens, mais vulneráveis. Para ele, proibir a propaganda de cerveja é “fundamental” para moderar o consumo, já que o vinho e a cerveja não são considerados bebidas alcoólicas para fins publicitários e suas propagandas podem ser exibidas a qualquer horário na televisão e no rádio – mesmo em horários em que crianças estão mais expostas a essas mídias.
Não é por acaso que as publicidades de cerveja exploram cada vez mais ícones das crianças e jovens, promovendo uma imagem de diversão e de sexualidade associada ao consumo da bebida. E, sem uma legislação regulatória, o Estado compactua com a exposição das crianças a esse conteúdo, que só campanhas contra a venda de bebidas a menores de idade não consegue reverter. O resultado? Segundo pesquisa de 2008 do médico Jairo Bauer, aos 13 anos, 37% dos entrevistados já tinham bebido alguma vez, número que chega a 80% aos 16 anos.
E o patrocínio de eventos não fica atrás. Para Melo, ações desse tipo “respaldam a equivocada concepção do álcool como algo indissociável da organização social e cultural do país, com evidentes prejuízos para a população e para o sistema público de saúde” ao atingir principalmente jovens, público mais vulnerável a desenvolver dependência ao álcool, o que, conclui, torna “imprescindível uma legislação mais rígida com relação a publicidade de bebidas alcoólicas, restringindo inclusive o patrocínio de eventos culturais”.
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