A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou na semana passada que recebe até o fim de maio a exposição “Emagrece, Brasil! A Obesidade pelo Olhar da Infografia” um projeto da Editora Abril, com patrocínio da Coca-Cola, que visa “alertar o público sobre os perigos do excesso de peso”, segundo a notícia da própria Anvisa.
A campanha promove a prática de exercícios, o que certamente pode contribuir no combate a obesidade, mas e a prevenção? E não para por aí: o “Emagrece Brasil” também afirma que se pode comer qualquer coisa desde que se controle a quantidade. Será? E como “controlar a quantidade” se há um estímulo cada vez maior, por meio de ações de marketing, para o consumo de alimentos e bebidas industrializados? Esse assunto ficou propositadamente de fora da exposição.
Nesse sentido, o patrocínio da Coca-Cola levanta suspeitas e outras questões. Não por acaso, também está sendo questionado na Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos.
Em novembro de 2011, o Ministério da Saúde apoiou o lançamento da campanha educativa “O Futuro Promete. Eu quero chegar bem lá”, iniciativa da indústria de anunciantes junto com empresas do setor de saúde. Uma campanha que joga nas costas do consumidor toda a responsabilidade de mudar seus hábitos cotidianos, sem considerar mudanças na comunicação mercadológica de alimentos não saudáveis, muitas vezes dirigida ao público infantil, nem o papel do Estado na proteção das crianças e na garantia da saúde pública.
Esse tipo de associação do Estado com a indústria já vem sendo discutido e analisado internacionalmente. A pesquisadora e consultora da OMS para regulação da área de alimentos, Corinna Hawkes, assinou junto com Kent Buse, consultor da UNAIDS, um artigo para o UNSCN sobre parcerias público-privadas. Para os autores, é possível fazer parcerias bem sucedidas, contanto que se avaliem os riscos embutidos nisso – o mais importante deles é o conflito de interesses. O artigo alerta para a necessidade de esclarecer o papel do Estado e do mercado nesse processo, reforçando que há uma diferença fundamental entre a atuação pública e a privada: o setor privado tem como principal objetivo gerar lucro, enquanto o setor público tem a obrigação de proteger os cidadãos.