Mesmo com o apoio da primeira-dama Michelle Obama na luta contra a obesidade, os Estados Unidos não conseguem aprovar legislações mais duras para a indústria alimentícia. Por quê? A Reuters resolveu investigar o assunto e descobriu a dimensão da força da indústria alimentícia e o quanto vem sendo investido pelas grandes corporações para barrar restrições estatais.
A reportagem cita um projeto de lei que aumentava os impostos de bebidas com alto teor de açúcar para reduzir o consumo e ajudar a custear o sistema de saúde público, como o começo desta “guerra dos alimentos”. A lei foi barrada após um intensivo lobby da indústria, que gastou 40 milhões de dólares nesse processo, mais de oito vezes o que tinha investido no ano anterior.
Mesmo as diretrizes voluntárias divulgadas por órgãos federais dos EUA enfrentaram muita resistência das empresas de alimentos, que chegaram a gastar 175 milhões de dólares em lobby durante o governo Obama, mais que o dobro do gasto no governo anterior.
A indústria rebateu as propostas para limitar publicidade de produtos não saudáveis afirmando que 88 dos 100 alimentos mais populares seriam proibidos de anunciar para crianças, de acordo com os índices máximos de sódio, açúcar e gordura estipulados pelas diretrizes. Espera aí, mas não seria esse mesmo o propósito, que a indústria fosse obrigada a vender alimentos mais saudáveis para as crianças?
Outras iniciativas, como a de tornar o almoço servido nas escolas mais saudáveis, também foram influenciadas pela indústria. Especialistas criticam a atual falta de resposta do governo norte-americano em continuar nessa batalha, afirmando que a Casa Branca ficou em silêncio em um momento crucial na luta pela regulação do marketing de alimentos, em um país em que os índices de obesidade infantil triplicaram nos últimos 30 anos.
Parece que o esforço feito pela primeira-dama e pelo governo Obama, embora tenha sido um começo, não foi o suficiente para enfrentar o problema. Frente a esse quadro, vale relembrar o questionamento feito pela diretora da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, em discurso no evento que debateu doenças crônicas não transmissíveis em 2011: “Aqui está uma pergunta que eu gostaria de fazer para as indústrias de alimentos e bebidas. Será realmente que produzir, comercializar, divulgar publicidade de forma agressiva, especialmente para as crianças, de produtos que prejudicam a saúde dos seus clientes é um bom negócio?”