A imprensa já está atenta à discussão da regulação da publicidade dirigida a crianças. Hoje, 27 de setembro, mais uma vez um veículo de grande circulação dá espaço para o tema, com nota publicada na coluna da Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo (veja ao lado). Não é a primeira nem será a última vez que o assunto será abordado, afinal trata-se de um interesse de toda a sociedade, principalmente dos pais contemporêneos.
No entanto, o mercado insiste em driblar essas discussões, ignorando o quão antiético é anunciar para um público vulnerável como o infantil, que ainda não tem senso crítico formado para fazer escolhas conscientes. E ao invés de buscar uma mudança de paradigmas para uma relação de respeito com a infância, as empresas trilham o caminho oposto.
“Venha ao MaxiMídia e aprenda a falar com quem mal aprendeu a falar”. Assim o MaxiMídia, um dos mais relevantes eventos da publicidade, anuncia o que os organizadores chamam de “um dos mais interessantes debates” da edição de 2011. E continuam: “Elas são pequenas só no tamanho. A influência que as crianças exercem sobre os adultos é imensa e os anunciantes sabem bem disso. Com uma legislação rigorosa sobre a comunicação direta com o público infantil, os anunciantes discutem como dialogar com as crianças sem ultrapassar barreiras. Afinal, como criar relevância para quem já tem uma vida tão dinâmica, no mundo físico e virtual, como a das crianças hoje?”. A mesa de debate é composta por velhos conhecidos: representantes de empresas líderes em seus setores, como McDonald’s, Nestlé, Mattel, Sony e Cartoon Networks.
Com vários projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional e resoluções do poder Executivo, a regulação da publicidade dirigida ao público infantil entrou de vez na pauta política, mostrando a necessidade de limitar uma comunicação que se aproveita da vulnerabilidade infantil. Até os 12 anos, as crianças estão em fase de desenvolvimento psico-cognitivo e por isso ainda não compreendem plenamente os apelos sedutores para consumo. Quando expostas a essa comunicação persuasiva, são impactadas de forma avassaladora, o que contribui para uma série de problemas da vida contemporânea – obesidade, erotização precoce, materialismo, violência e estresse familiar, para enumerar alguns.
Mais uma vez o mercado prova que não tem intenção de mudar sua postura. Ao contrário, continua tentando encontrar brechas para mercantilizar a infância, fazendo de crianças pequenos consumidores fiéis às marcas. É essa a infância que queremos?