Que as redes sociais podem ser um lugar perigoso para crianças, devido a questões como pedofilia e violência, todo mundo sabe. Mas e quando o assunto é publicidade e consumo? Só no mês de fevereiro cerca de 2,5 milhões de crianças de 6 a 11 anos circularam pelo Orkut e pelo Facebook no Brasil, segundo matéria da Folha de S. Paulo. No mesmo mês, teve destaque a notícia divulgada durante a Social Media Week de que o Facebook possibilitaria compras diretamente em seu site.
No Reino Unido, por exemplo, já é possível comprar produtos diretamente pela rede, estratégia que deve ser copiada em breve por empresas brasileiras. O Facebook divulgou essa semana que bane 20 mil crianças com menos de 13 anos por dia, que burlam suas informações pessoais para entrar na rede.
Mas, e as redes sociais feitas especialmente para crianças? Programas como o Club Penguin e o Habbo Hotel misturam vida real com virtual, confundindo os jogadores. As duas redes são gratuitas a princípio, mas estimulam as crianças a gastar dinheiro com funções específicas para assinantes pagos ou a comprar itens virtuais para o seu avatar, que custam dinheiro de verdade.
O Club Penguin, dirigido a crianças entre 6 e 14 anos, é mantido pela Disney. Além da anuidade paga por alguns usuários para poder acessar setores do site, o programa gera renda também na venda de produtos licenciados. Para Susan Linn, especialista em consumismo infantil e fundadora do CCFC, sites como esse promovem valores distorcidos já “que a principal atividade das personagens virtuais é ir fazer compras no shopping”.
Já o Habbo contava, em 2010, com 178 milhões de personagens registrados – 28 milhões somente na versão em português. No jogo, crianças podem comprar virtualmente produtos com as fictícias “Habbo Moedas”, que custam dinheiro de verdade! Devido a essa confusão entre o real e o virtual, em 2007 o site foi denunciado pelo Projeto Criança e Consumo ao Ministério Público do Estado de São Paulo. A empresa Sulake, responsável pelo site, teve que firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP, obrigando-se a, dentre outras ações, reembolsar os pais de menores de 18 anos que tinham realizado gastos no site sem sua autorização, bem como a promover jogos e atividades que não envolvam dispêndio financeiro. A empresa também foi obrigada a manter no site informação clara sobre a classificação indicativa do site.
Mas esses dois sites não são os únicos – e a quantidade de redes infantis deve crescer nos próximos anos. É estimado que, até 2012, mais de metade das crianças na internet pertençam a algum tipo de rede social infantil, o dobro da população atual de pertencentes do mundo virtual. E marcas, como a Disney e a Nestlé, por exemplo, começam a utilizar o meio como comunicação com o público infantil.