Especial Mães: Para ser mãe não há receita, nem fórmula milagrosa

 

Em uma grande cidade qualquer…

Você, mãe que trabalha, sai pontualmente às 17h do escritório, porque sabe que o trânsito depois disso fica caótico. É segunda-feira, dia internacional das resoluções de mudança de vida – a sua, naquele dia, como a de muitas mães que trabalham, foi ‘passar mais tempo com meu filho’. Você consegue chegar a tempo de buscá-lo na escola, entram no carro e você lança a ideia de uma noite agradável:

– Vamos ao cinema, filho?

Festa no banco de trás! Mas você, mãe zelosa, sabe que filmes infantis hoje, quase sem exceção, só são exibidos nos cinemas de shopping. Ou seja, pra levar o filhote ao cinema, será preciso fazer uma série de acordos no caminho.

– Filho, nós vamos ao cinema do shopping ver aquele filme que você queria, mas antes disso a gente precisa jantar. E nada de lanche! Hoje é comida mesmo: arroz, feijão, carninha, salada e suco.

Antes que ele resolva protestar sobre o menu, você avisa que vão aproveitar para comprar o substituto do bichinho de pelúcia que ele abraça pra dormir:

– Seu coelho já tá encardido e furado, e a mamãe tinha prometido um novo pra você, ao invés do ovo de Páscoa. Então podemos comprar. Mas é só isso hoje, viu?! Não tem carrinho, não tem boneco, não tem joguinho. É só um bichinho de pelúcia novo pra você dormir, você pode escolher.

– Oba, tá bom! Então eu quero um outro coelho, aquele azul, igual o da história da revistinha.

Não era bem isso que você, mãe que já leu um bocado sobre desenvolvimento infantil e tenta de todas as maneiras estimular a criatividade do seu filho, tinha imaginado… – Ah, filho, esse coelho não, vai… Vamos comprar um outro. Não precisa nem ser um coelho, pode ser outro bicho se você preferir. Mas tem que ser um bicho que você possa escolher o nome, tá bom? Pode ser?

Já no shopping, o capítulo jantar vai bem, mesmo com todo o assédio que só uma praça de alimentação de shopping é capaz de exercer (sobre adultos e crianças, diga-se de passagem!). Você fica aliviada ao ver que vão entrar no cinema já no fim dos trailers – assim não corre o risco de dar de cara com o alguma cena de um filme de pancadaria (porque a classificação indicativa não vale pros trailers!) ou então com o anúncio de mais um super brinquedo novo, que seu filho provavelmente ia pedir se visse o comercial…

Do cinema para a loja de brinquedos, comprar o tal bichinho de pelúcia. O combinado funciona, seu filho escolhe um bicho novo que não é nenhum personagem que já tem nome e sai contente com a sacolinha. Você sai contente também, e orgulhosa por ter conseguido seguir os combinados e passar um tempo gostoso com seu filho numa segunda-feira qualquer.

Já na saída, você se lembra de que não tem tudo que precisa pra cozinhar o jantar do dia seguinte:

– Filho, precisamos dar uma passadinha no supermercado antes de ir embora, mas eu prometo que é rápido.

Enquanto coloca o que precisa na cestinha, você fica atenta ao caminho que vai fazer até o caixa, tentando desviar dos corredores de balas, chocolates e biscoitos… Tudo perfeito, não fosse aquela pirâmide de ovos que sobraram da Páscoa:

– Mãe! Eu quero! Esse ovo aqui, ó, do Naruto! Você não me deu nenhum ovo de Páscoa! Compra pra mim, vai…

Você, agora mãe exausta,até pensa em ceder… Mas fica firme, ignora o pedido, paga a compra e vai embora. Atrás de você, uma criança chorando, os inevitáveis olhares de todo mundo que passeia pelo shopping e um único pensamento:

“Então é isso, né?! A gente se esforça a noite inteira pra ter uma segunda-feira legal com o filho, evita o hamburguer, perde os trailers de propósito, compra só o brinquedo que foi combinado… E aí perde o jogo aos 45min do 2º tempo por causa de um ovo de Páscoa de um personagem que a gente não sabe nem falar o nome, e ainda sai com fama de mãe carrasca. E tem gente que acha que ser mãe é moleza…”

Não é que ser mãe hoje seja mais difícil do que no tempo das nossas mães e avós – não tem nem como fazer esse tipo de comparação. Mas as dificuldades e desafios vão se atualizando, e se transformam ao longo do tempo.

Temos mais informações sobre tudo, mas o tempo parece estar cada vez menor – consumido entre horas de trabalho e horas de trânsito, parece que o que sobra para os filhos nunca é o suficiente. E nossa sociedade hoje é muito mais estimulada ao consumo do que há 30, 40 anos – então é natural que as dificuldades sejam outras, muitas vezes relacionadas ao ato de consumir.

Pensando em tudo isso, o Projeto Criança e Consumo preparou para o mês de maio um Especial Mães. Serão entrevistas, matérias especiais no site e aqui no blog, além de oportunidades para troca de idéias nas redes sociais. Queremos inspirar a reflexão sobre a maternidade nos dias de hoje e sobre como as mães vem lidando com a criação de seus filhos numa sociedade cada vez mais pautada pelo consumo.

Mas não se engane: aqui não há receita pronta, nem fórmula milagrosa. Afinal, qualquer semelhança da história aí de cima com a vida real não é mera coincidência…

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