Durante mais de duas horas de palestra, educadores, pais e líderes comunitários foram inundados com informações e dados sobre o problema da mercantilização da infância. Esse foi o resultado da “Capacitação de Multiplicadores: Desafios e alternativas para o problema do consumismo na infância”, realizada ontem no Sesc Pinheiros, que tinha como objetivo levar conteúdo e formar profissionais capazes de replicar o conhecimento a respeito do consumismo infantil, para conscientizar cada vez mais pessoas sobre o problema. A capacitação em São Paulo foi a primeira do que será um evento itinerante, que pretende percorrer diversas cidades brasileiras.
Foram entregues aos presentes folhetos, livros e apostilas com conteúdo e dicas de como trabalhar esse tema em outros ambientes, sejam eles escolas, igrejas, comunidades ou mesmo em família. A palestra foi dada pela psicóloga Maria Helena Masquetti e por Roberta Nardi, ambas da área de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo. As duas apresentaram pesquisas e explicaram a gravidade das consequências do consumismo infantil. Obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar, violência, consumo de álcool, fim das brincadeiras criativas e insustentabilidade ambiental foram alguns dos problemas apresentados.
“O problema não é a publicidade, mas ela ser dirigida a criança, um público hipervulnerável que até os 10 anos não sabe diferenciá-la do resto da programação e até os 12 não entende seu objetivo final”, explicou Maria Helena. Ela contou que a criança vê o mundo de forma lúdica, e mistura a fantasia e a realidade. “Ela acredita naquilo que está imaginando ou vendo, e precisa dos exemplos dos pais para aprender”, disse. Roberta falou sobre a influência da publicidade, que hoje deixou de vender apenas produtos e serviços, pra vender valores. “Precisamos pensar quais são os valores que essas propagandas estão transmitindo para as crianças, que desejos elas despertam”, comentou.
Depois de apresentar os problemas decorrentes do consumismo, as palestrantes abriram o espaço para uma conversa, dialogando sobre o que pode ser feito para reverter esse quadro. No ambiente familiar, os pais devem dar o exemplo e criar hábitos familiares que não envolvam o consumo, além de conversar com as crianças a respeito do real objetivo da publicidade. “É preciso ensinar que elas não precisam de produtos de marca para serem aceitas e respeitadas e que a criança não é só aquilo que ela possui”, explicou a psicóloga. Elas também ressaltaram a importância da atuação do Estado na questão, aprovando leis que regulem a publicidade dirigida a crianças, como o PL 5921.