Os fatos tendem a perder força quando deixam de ter valor de notícia. Mas quando se trata de assuntos que atingem questões fundamentais, como a busca por uma sociedade mais igualitária, é preciso relembrar episódios que não podem cair no esquecimento.
No fim de junho, o Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) enviou um parecer extremamente ofensivo sobre uma denúncia do Instituto Alana contra campanha do McDonald’s dirigida ao público infantil. No documento, o relator do caso chamava o Alana de “bruxa Alana, que odeia criancinhas”, demonstrando total falta de comprometimento com a ética e uma incapacidade de solucionar questões de interesse público.
Na semana passada, o Conar errou a mão mais uma vez e arquivou mais de 40 denúncias contra uma publicidade de lingerie da marca Hope, que trazia a modelo Gisele Bündchen como protagonista. A própria Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República fez uma reclamação formal à entidade, questionando a representação da mulher na campanha comercial. Como de costume na televisão brasileira, a mulher aparece como dependente do marido, fazendo cara de bonita e burra para conseguir o que quer.
Para muitos, a publicidade foi cuidadosamente pensada para gerar polêmica. Seja como for, não se deve brincar com a ética e nem reproduzir estereótipos que deveriam ter ficado no passado. No entanto, o Conar considerou que não havia nada de errado em representar a mulher daquela maneira, já que os estereótipos usados “são comuns à sociedade e facilmente identificados por ela, não desmerecendo a condição feminina”.
Todas as tentativas de frear ações agressivas de marketing e criar regras claras para temas relevantes para a sociedade, tem como resultado o seguinte movimento: o mercado se mobiliza, esbraveja sobre censura e coloca o seu órgão autorregulador (o Conar) a favor de interesses puramente comerciais.
Assim, debates sobre como a publicidade tem tratado a mulher, direcionado mensagens a crianças, estimulado o consumo de cerveja entre os jovens, entre outras questões, acabam sempre tratados de forma superficial, dando a falsa ideia de que os questionamentos são pura chatice ou coisa de gente autoritária.
Para quem se diz defensor da ética na publicidade, o Conar precisa ir muito além do que tem ido e travar discussões mais sérias e profundas a respeito do impacto do marketing na sociedade.
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