Como resultado do que foi debatido na roda de conversa “Criança e Consumo: os donos do cardápio infantil”, ocorrida durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, os participantes divulgam agora uma carta aberta, ressaltando as consequências da alimentação infantil não saudável e pedindo a atenção da população e das autoridades frente ao problema.
Entre os presentes para o debate, estavam educadores e agentes de saúde, como a professora Dra. Noemia Goldraich, da UFRGS, e a mobilizadora regional do Canal Futura e jornalista, Zilda Piovesan, além de Gabriela Vuolo, representando o Instituto Alana. A publicidade de alimentos não saudáveis dirigida a crianças foi uma das questões colocada em debate, sendo destacada como uma das grandes influenciadoras do cardápio infantil.
Leia abaixo a carta na íntegra:
CARTA ABERTA CRIANÇA E CONSUMO
Os participantes da oficina CRIANÇA E CONSUMO: OS DONOS DO CARDÁPIO INFANTIL, realizada no Fórum Social Mundial Temático 2012, por iniciativa do Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS e do e-grupo Criança e Consumo (criancaeconsumo1@gmail.com), decidiram pela publicação desta carta em alerta à população e às autoridades quanto aos riscos à saúde decorrentes de uma alimentação inadequada, baseada em produtos industrializados, que contêm altas taxas de gorduras, sal e açúcar e baixo valor nutricional.
Como consequência:
1. o excesso de peso, em 2008-2009, já atingia cerca de metade dos homens e das mulheres adultas. Dados comparativos das décadas de 70 a 90 mostram que, neste período, o excesso de peso de meninos (5 a 9 anos) aumentou 3 vezes e de adolescentes (10 a 19 anos), 6 vezes (IBGE), o que comprova que a obesidade é uma doença evolutiva, que se inicia na infância e se perpetua ao longo da vida;
2. as doenças crônicas associadas à obesidade (hipertensão arterial, diabetes e câncer), antes consideradas doenças de adulto, têm sido diagnosticadas cada vez mais precocemente;
3. estas doenças estão relacionadas às quantidades excessivas de sal (sódio), açúcar e gorduras presentes em refrigerantes, bolachas recheadas, salgadinhos e massas instantâneas, consumidas pelas crianças.
O bombardeio publicitário dirigido ao público infantil, associado à desinformação da população, são os verdadeiros donos do cardápio das crianças.
Conclamamos a população e as autoridades a:
– estabelecer ações conjuntas e continuadas, principalmente das Secretarias de Educação e de Saúde voltadas à educação nutricional e alimentar desde o período pré-natal, com ênfase em creches e pré-escolas;
– enfatizar os benefícios do aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, da sua continuidade após a introdução da alimentação complementar saudável, assim como dos prejuízos associados ao aleitamento artificial;
– destacar a importância de evitar o acréscimo de açúcar e sal nos alimentos antes dos 2 anos de vida – período vital em que se define o paladar, que acompanhará o ser humano pelo resto de sua vida;
– difundir amplamente para a população, bem como fiscalizar de forma efetiva, onde a alimentação escolar é executada e servida (escolas), o cumprimento das diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE (Lei nº 11.947, de 16/06/2009), que determina a aquisição mínima de 30% de produtos oriundos da agricultura familiar, proíbe a compra de refrigerantes e restringe a aquisição de enlatados, embutidos, doces, alimentos em pó ou desidratados para reconstituição, com quantidade elevada de sódio e de gorduras;
– agregar as universidades públicas na capacitação dos profissionais das áreas de saúde e educação, focada em uma alimentação escolar adequada aos costumes regionais, às condições nutricionais individuais das crianças e às faixas etárias, dos berçários até o final da vida escolar;
– promover, pelo poder público, campanhas de esclarecimento quanto à importância de hábitos alimentares saudáveis na prevenção de doenças crônicas;
– mobilizar os Conselhos Municipais de Educação, de Saúde e de Alimentação Escolar para o engajamento em defesa da alimentação saudável;
– criar uma mobilização nacional pela regulamentação da publicidade dirigida ao público infantil.
CADA UM DE NÓS É RESPONSÁVEL PELA SAÚDE DAS CRIANÇAS. PENSE NISSO!
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2012