O Carnaval é o momento do ano em que mais se vê o estímulo mercadológico ao consumo de bebidas alcóolicas. As grandes cervejarias costumam travar verdadeiras batalhas em busca de consumidores para suas marcas, e, nesse contexto, é preciso lembrar que a cerveja não é considerada bebida alcóolica para fins de publicidade e, por isso, pode ser anunciada a qualquer hora do dia ou da noite, ainda que, sim, possua teor alcóolico e para todos os outros fins legais seja tida como bebida alcóolica. São celebridades e mais celebridades, inclusive internacionais, que figuram nos filmes publicitários que podem ser veiculados a qualquer hora do dia nos canais de tevê – inclusive quando a audiência é, na grande maioria, infantil.
E justamente nessa época deparei-me com algumas notícias que valem a reflexão. A primeira diz respeito à arte da designer italiana que desenhou mamadeiras de bebês como se fossem garrafas de bebidas alcóolicas diversas, como a vodka da Barbie ou o whiskey da Fischer Price. A ideia parece absurda, apenas uma brincadeira com tom crítico que nunca sairia do papel. Mas, estamos chegando lá: já temos o espumante das Princesas e do Mickey, ambos da Disney, que, vá lá, não são alcóolicos, mas não deixam de estimular nas crianças o consumo de espumantes. É preocupante. Imagine se a moda pega e tenhamos no mercado mamadeiras em formato de garrafas de famosas bebidas alcóolicas?!
Também nesses dias foi divulgado o estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, realizado em 16 estados brasileiros, dando conta que as meninas a partir dos 14 anos consomem mais bebida alcóolica do que os meninos, segundo a pesquisa, “para relaxarem da pressão exercida por família e escolas”. A propósito, Rosely Sayão lembrou que as meninas com menos de seis anos de idade já são vestidas e maquiadas como adultas e interessadas em assuntos de mulheres feitas – o que talvez explique uma maior pressão sobre elas.
É mais um estudo comprovando que o assédio mercadológico às crianças tem sido enorme e causado problemas gravíssimos, inclusive de saúde. Não estamos falando apenas do impacto do número de crianças e pré-adolescentes que já começam a consumir bebidas alcóolicas ou do aumento dos índices de alcoolismo em faixas etárias cada vez mais novas, mas também de cada criança, de cada família que está sofrendo com as consequências desse bombardeio publicitário, muitas vezes sem mesmo se dar conta da origem de tudo isso.
Em termos de políticas públicas, nossas crianças precisam de mais proteção do Estado. É urgente a necessidade de uma legislação que considere as cervejas e os vinhos como bebidas alcóolicas para fins publicitários, a fim de evitar que qualquer comunicação mercadológica de tais produtos fale com as crianças de alguma forma e, principalmente, que a publicidade de cervejas deixe de ser veiculada durante o período diurno nas rádios e tevês brasileiras – principalmente durante eventos festivos como o Carnaval e Copa do Mundo.