O auditório do sindicato dos engenheiros do Rio de Janeiro ficou pequeno para assistir a fala de Frei Betto sobre “Infância, Valores e Sustentabilidade”. Para recepcionar o público e esquentar o debate, foi exibida a versão curta do documentário “Criança, a alma do negócio”.
A fala de frei Betto começou por um resgate sobre como foi sua própria infância, um tempo pré-televisivo sem traquitanas eletrônicas em que as crianças se divertiam através da imaginação. O advento da televisão aos poucos atrapalhou esse sonho, já que nas palavras de Frei Betto: “A TV sonha por nós e a criança está perdendo a natureza onírica dela.”
É na infância que se está mais apto a sonhar, onde realidade e ficção se misturam, é quando cabo de vassoura vira cavalo, quando se tem milhares de amigos imaginários. Frei Betto apontou que os estímulos para que a criança tome consciência cada vez mais cedo do seu próprio corpo fazem com que mais um aspecto fundamental da infância se vá.
Compelidas a entrar na realidade antes do tempo, as crianças sentem-se mais vulneráveis e tendem a querer, nos anos posteriores, retornar para o mundo da imaginação que foi perdido. Como consequência, criam-se jovens e adultos inseguroes, que temem a realidade.
De acordo com Frei Betto, uma das maneiras de fugir da realidade encontrada pelos jovens é através de substâncias entorpecentes. Com um sabedoria profissional perversa, traficantes buscam nos jovens até 15 anos potenciais novos consumidores, já que é no pós-infância e na tenra juventude que essa necessidade de fugir da realidade está mais aguçada.
Frei Betto ressaltou ainda como as frustrações vividas pelas novas gerações são fruto de um vazio muito grande deixado na infância:
“Quando o valor do ser humano passa a ser o bem, o objeto, o que podemos esperar? Que as pessoas não se droguem? Os bens são ilimitados e na frustração de buscar satisfação por meio desses bens também é ilimitada”.
Enquanto o mercado busca formar consumidores a sociedade busca formar cidadãos. Essa batalha tem começado cada dia mais cedo. Em cidades que não são pensadas para crianças, elas acabam ficando cada vez mais confinadas e expostas as mais diferente mídias. Nesse universo, os valores acabam sendo distorcidos e prevalecem os estímulos ao consumismo e aos valores materialistas, que minam a natureza onírica da criança,