Bolo, balão, brigadeiro, presentes. Onde encontramos todas essas coisas? Em festas de aniversário e, especialmente, nas de crianças, óbvio! Infelizmente essa afirmação já não é tão óbvia assim porque hoje as festas de crianças ganharam espaços bem singulares. E é por isso que há muito tempo venho refletindo sobre festas infantis e seus novos contornos.
Minha reflexão começou com o boom das festas em buffets, onde a única coisa que remete ao aniversariante e à infância é a assinatura com a letra da criança (dependendo da idade) no convite. Ao chegar nesses lugares, você se depara com um baú onde deve depositar o presente ao “homenageado” – é esse o termo usado pela recepcionista que te recebe na entrada. Depositar o presente, mas sem esquecer de colocar seu nome na caixa para quando a criança chegar em casa e abrir seu baú com inúmeros presentes, e muitos repetidos, elas saberem quem foi o “remetente”. Aquela delícia de dar o presente escolhido a dedo ou feito com as próprias mãos e de receber do outro lado parece estar fora de moda. Triste, não? Mas esse é só o início da festa que segue, na maioria das vezes, em horário e com músicas, comidinhas ou brincadeiras nada adequadas para crianças. No decorrer da comemoração, o pequeno aniversariante fica sendo estimulado, incansavelmente, por animadores que nos fazem lembrar, a todo o momento, que hoje é o seu dia e não do personagem famoso estampado nos quatro cantos do salão. Com o fim da festa, a criança volta para casa cansada, mas com um saco cheio de presentes o que nos faz pensar o que foi celebrado ali: as conquistas de mais um ano de vida ou o consumo?
Hoje, a moda é outra, como denuncia reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. As festas mais cobiçadas pelas crianças de classe alta de seis anos, ou será pelas mães dessas crianças, acontecem em outro local nada apropriado: dentro de uma limusine alugada. Pasmem! As mães alugam limusines pelo valor de mais ou menos R$1.500 para festejar mais um ano da vida de seus filhos. As crianças festejam circulando pela cidade, dentro de um carro e ao som da mais nova celebridade mirim do momento, e acabam a festa ali dentro mesmo, sem poder brincar. Pois é… Mudaram não só os locais de comemoração como os valores que estão sendo transmitidos, não é mesmo? O que será que estamos transmitindo a nossas crianças quando festejamos seu aniversário dentro de salões de beleza ou de limusines? O que elas vão querer na festa de quinze anos ou no dia de seu casamento? Na minha opinião, cabe aos pais essa reflexão e a tentativa de pensar, criativamente, em como comemorar o aniversário de seus filhos de forma mais sustentável e humana.
Mas, existe saída, viu? Outro dia tive um bom exemplo, que me foi reconfortante, quando recebi um convite da festa de aniversário do filho de uns amigos que era feito pela criança. Quando cheguei à festa, que aconteceu no Jardim Botânico, pude entregar o presente na mão da criança e lanchar delícias feitas pelas tias e avós. Tudo muito original daquela família. No fim, saí junto com o aniversariante, que carregava um saco não tão grande de presentes, mas com um enorme sorriso no rosto. Na sua festa, ele pôde trocar com pessoas importantes na sua vida conquistas e atividades que valiam a pena guardar na memória. Isso é algo para se festejar! Experimentem.